quarta-feira, 1 de abril de 2015

O ódio e o preconceito me assustam muitíssimo, declara Marília Gabriela

crédito gabi-herpes
Marília Gabriela atualmente dá expediente na TV somente no GNT
Jornalista, apresentadora, escritora, cantora, atriz, mãe, avó, mulher de múltiplas paixões. Na TV e na vida real, Marília Gabriela não teve medo de atuar em vários papéis diferentes ao longo de seus 66 anos de vida.
Desde sempre chamada de Gabi, ela começou como estagiária do “Jornal Nacional”, em 1969, e logo depois foi convidada a apresentar o “Jornal Hoje”. Em 1972, passou a integrar a equipe do “Fantástico”. Mas foi na década de 80 que Marília ganhou maior destaque ao ancorar o extinto “TV Mulher”. O programa foi um marco na história da televisão e contava com a participação de Marta Suplicy (sexóloga e hoje Senadora), o polêmico estilista Clodovil Hernandez (falecido em 2009), o cartunista Henfil e o jornalista Ney Gonçalves Dias. Com o fim da atração, Marília tornou-se correspondente da Globo em Londres.
Em 1985, integrou o time de apresentadores da TV Bandeirantes, comandado o “Marília Gabi Gabriela” e o “Cara a Cara”. Em 1989, Gabi foi a primeira mediadora de um debate entre candidatos à presidência da república depois do Golpe de 64, que contou com a presença dos candidatos Lula e Fernando Collor de Mello.
Gabi é sem dúvida a melhor entrevistadora da televisão brasileira. Com um rool de entrevistas de dar inveja a qualquer colega do meio jornalístico, já “arrancou” declarações de políticos, artistas, especialistas e celebridades ao longo de mais de 46 anos de carreira, entre eles, Madonna, Rick Martin, Elton John, Yasser Arafat e Fidel Castro. Segundo o site “Pró-TV”, a jornalista acumula mais de 10 mil entrevistas durante suas passagens pelos canais Globo, Band, SBT, Rede TV! e GNT com atrações que levam o seu nome.
Com uma carreira sólida no jornalismo, Gabi alçou novos voos e desenvolveu projetos na área do entretenimento. Atuou em “Senhora do Destino”, “Duas Caras” e nas minisséries “JK”, “Cinquentinha”, “Lara com Z” e “As Canalhas”. Nas telonas fez “Avassaladoras” e “Sexo com Amor”. No teatro, estrelou “Esperando Mackett”, “Aquela Mulher”, “A Peça Sobre o Bebê” e agora “Vanya e Sonia e Masha e Spike” – em cartaz em São Paulo. Como cantora lançou três discos e uma de suas músicas – “Você” – fez parte da trilha sonora da novela “Mulheres Apaixonadas”. Além disso, escreveu “Eu Que Amo Tanto”, livro que deu origem à série exibida pelo “Fantástico” no começo do ano.
Em entrevista exclusiva ao RD1, Gabi fala da carreira no teatro e na televisão, dos relacionamentos e da polêmica foto envolvendo seu filho Theodoro no Carnaval: “O ódio e o preconceito me assustam muitíssimo”.
Confira a íntegra da conversa:
RD1 – Mulheres independentes têm buscado relações com parceiros mais novos. Ter tido um relacionamento assim, e ainda ter sido apresentadora de um clássico como o “TV Mulher”, ajudou a construir Masha?
Gabi - Masha e eu temos “preferências” semelhantes e inegáveis (risos). Mas eu não sou a Masha, pode acreditar, e aceito a comparação com muito humor. Era de se esperar que isso fosse acontecer por meus relacionamentos anteriores.
Masha é a irmã de Vanya, do fantástico Elias Andreato, e de Sonia, da maravilhosa Patricia Gasppar. Sou a irmã que foi embora e virou atriz de sucesso, hollywoodiana, e volta para uma visita trazendo o namorado 30 anos mais novo, o ator Spike, deliciosa personagem de Bruno Narchi. Ainda temos a Cassandra, empregada meio pitonisa, meio charlatã, da sensacional Teca Pereira, e a belezura da Bianca Tadini, divina fazendo a Nina, jovem aspirante a atriz. Minha visita e seus motivos provocam a catarse familiar que se vê em cena.
RD1 – Buscou referências em outras personagens do cinema, literatura ou círculo de amizades?
Gabi - Em tudo isso. E muito (risos).
RD1 – Teve a oportunidade de assistir ao espetáculo nos EUA?
Gabi - Sim. A montagem de “Vanya e Sonia e Masha e Spike” na Broadway foi deliciosa, e Sigourney Weaver, a Masha de lá, estava ótima. Somos ambas muito altas, isso eu sei (risos), mas nossas interpretações ficaram bastante diferentes. Espero que gostem do meu trabalho como gostaram do dela por lá! Ah… sim… nosso espetáculo ficou mais bonito! (risos).
1ky5n0gmjtua42iepjhkdaygd
Marília Gabriela no “TV Mulher”, que fez história
RD1 – Como quantifica a contribuição do “TV Mulher” em relação às mudanças que vêm ocorrendo no âmbito familiar nos últimos anos?
Gabi - Na época, tempos de eclosão do feminismo no Brasil, foi uma novidade no formato de programas femininos na TV, um programa bastante importante que permitiu-nos visibilidade discutindo leis, sexo, apresentando editoriais importantes em sua abertura, além de preços de alface em feiras livres e receitas de cremes de beleza. Causou polêmicas e fez história. Marta Suplicy, sexóloga à época, e eu, demos capa do “New York Times”. E ainda tínhamos o Henfil fazendo humor requintado. Creio que demos nossa contribuição.
RD1 – Sente falta de uma atração que fale de igual pra igual com as telespectadoras e que não seja clichê?
Gabi - Não posso opinar sobre isso. Quase não vejo TV aberta, desculpe-me.
RD1 – Nas conversas que mantêm com seus convidados, você aborda a terapia como auxílio nos mais diferentes momentos da vida. Ter uma carreira sólida no jornalismo e investir na carreira de atriz e cantora lhe trouxe inseguranças?
Gabi - (risos) Viver causa inseguranças a partir do primeiro tapinha na bunda, quando saímos do lago plácido e aconchegante que é uma placenta. E minha cabeça sempre foi caótica, por sorte.
VANYAeSONIAeMASHAeSPIKE 2 - DNG
Gabi em “Vanya e Sonia e Masha e Spike”
RD1 – Como o mercado observou essa “nova” Gabi?
Gabi - Que mercado? Sinceramente, não consigo fazer essa avaliação de quem sou e quanto valho na praça, pelo simples fato de estar sempre muito envolvida com minha necessidade de perguntar, em amplo espectro, para conseguir respostas que me são vitais. Para isso me servem as profissões que escolhi.
RD1 – Tem se tornado mais comum encontrar irmãos solteirões em nossa sociedade – fruto de mudanças comportamentais e econômicas. Como enxerga esse adiamento ou até mesmo a anulação de uma vida a dois com filhos?
Gabi - Difícil, bem difícil, como continua sendo hoje, ao que parece, para todas as mulheres que decidem encarar uma vida profissional junto com a maternidade responsável.
RD1 – Seu filho Theodoro possui no currículo dezenas de trabalhos envolvendo novelas, cinema, teatro e agora também compõe a produção da peça – o figurino foi escolhido por ele. Como é a troca de figurinhas entre vocês?
Gabi - Theodoro já foi responsável pelos figurinos da minha última peça, o monólogo “Aquela Mulher”, do escritor angolano José Eduardo Agualusa. Eram lindos. E ele já recebeu um prêmio Shell de figurino há poucos anos. Os de agora são magníficos. E, sim, exijo que ele me chame de mãe na frente de todo o elenco, porque me sinto estranha se ele, como profissional, me chame de Gabi (risos).
RD1 – Em “As Canalhas”, você deu vida à uma mãe controladora e ciumenta. Há poucos meses você saiu em defesa do seu filho, Theodoro. Como avalia o comportamento da mídia em relação à vida privada dos artistas, em especial, a forma como tudo foi conduzido?
Gabi - Como normal em sua função e especialidade. A questão é que as populações cresceram, os profissionais desse tipo de mídia são também em maior número, o mercado da fofoca agigantou-se e enriqueceu aqui e no mundo. A internet possibilitou a viralização de tudo, e há sempre os que deixaram de viver e estão a postos para criticar os que estão visíveis. O ódio e o preconceito me assustam muitíssimo. Em todas as áreas.
RD1 – Quais as novidades na carreira de atriz envolvendo televisão?
Gabi - Por enquanto, só a perspectiva de participar, como atriz, de uma série baseada no meu livro “Eu Que Amo Tanto”, sob a direção do diretor e amigo Bruno Barreto. O livro já rendeu quatro episódios curtos no “Fantástico”. A proposta aqui é outra, com as histórias bem mais longas, e algumas novas que estou trabalhando, e que recolhi de outras personagens: homens e mulheres hétero e gays, e uma transexual.
::
Theodoro Cochrane conta ao RD1 quais referências buscou para compor o figurino da peça:
Theodoro: As referências foram as mais variadas para a concepção dos desenhos e confecção das roupas. A primeira parte foi conversar com o diretor Jorge Takla e entender as exigências para cada personagem.
Vanya e Sonia tinham características mais “naturalistas”, menos glamourizadas. Por serem pessoas que moram numa casa de campo, teriam de prezar o conforto. Fui me inspirar em lojas tipicamente americanas, com muito uso de sarja, linho, algodão e brim. Os tons mais pastel.
Spike por ser muito sexual e jovial, usei uma modelagem mais justa que valorizasse o corpo e muito “colorblocking”. As marcas mais italianas e caras, com um toque de vulgaridade como Dolce & Gabanna e Gucci.
Cassandra é a personagem mais espalhafatosa e com um toque étnico. Muita cor e formas geométricas. Excentricidade à la Prada.
Nina é a personagem mais contemporânea e informada. Seu figurino é aparentemente despretensioso e pudico, mas abusa de transparências e sensualidade. Muito branco, jeans e tule. Referência American Apparell e Jil Sander.
Masha é sinônimo de glamour e elegância tradicional. Muito tecido nobre. Crepe de seda, seda e pelica. A maior inspiração foi a última coleção do Jean Paul Gaultier para a Hermés.
As fantasias foram inspiradas no clássico “Branca de Neve”, da Disney, e tiveram uma releitura de luxo.
Serviço:
“Vanya e Sonia e Masha e Spike”
Elenco: Marilia Gabriela, Elias Andreato, Patrícia Gasppar, Bruno Narchi, Bianca Tadini e Teca Pereira
Teatro Faap (Rua Alagoas, 903, Pacaembu, São Paulo/SP – (11) 3662-7233)
Sexta, 21h / Sábado 17h e 21h / Domingo 17 h (Duração: 120 minutos, com intervalo)
Ingresso: R$ 80,00 em todas as sessões
Direção: Jorge Takla
Texto: Christopher Durang
Figurinos: Theodoro Cochrane

Nenhum comentário:

Postar um comentário