A expectativa política no Brasil de hoje está ancorada na resposta para a seguinte pergunta: a presidenta Dilma voltará ao poder, ou não voltará, após sofrer um “golpe de Estado suave”, para usar a sublime avaliação sobre o tema feita recentemente pelo papa Francisco?
Não há milagre capaz de sustentar com segurança uma das duas respostas possíveis a essa indagação: não e sim. Nesta ordem. Em princípio, tudo parecia perdido para Dilma, assim como parecia certo para Temer, ganhar a oportunidade de completar o restante do mandato iniciado em 2015.
Antes mesmo de tropeços na ineficiência administrativa do governo provisório e das revelações escandalosas saídas das entranhas do PMDB, surgiu uma mudança importante no comportamento do eleitor favorável à presidenta afastada.
Não é indício. É fato revelado por pesquisa inédita do Ibope, realizada após a consumação do golpe.
“Dilma passou de 18% para 33% de confiança”, diz Carlos Augusto Montenegro, presidente do Ibope, em econômica revelação dos resultados da pesquisa feita em meados de maio. Não foi feita avaliação do governo interino.
Dilma teve crescimento de 15% comparado com números de duas outras pesquisas anteriores. A primeira, já divulgada, realizada em março, entre os dias 17 e 20, e a segunda, em meados de abril, de 14 a 18 (tabela). Esta última inédita.
As duas mostraram certa estabilidade no porcentual de confiança, mas ainda mantinham extremo o grau de desconfiança dos eleitores. Foram realizadas antes dos resultados da votação de admissibilidade do afastamento de Dilma na Câmara e no Senado.
Números da terceira pesquisa, de maio, indicam um impacto forte nos índices “confia”, para cima, e “não confia”, para baixo. A queda da desconfiança é expressiva. Caiu de 76% para 65%. Porcentuais ainda preocupantes. Projeta, porém, tendência de queda.
O resultado surpreende. Dilma, tudo indica, está em processo de recuperação política. A velocidade do caminho será ditada pelo possível fracasso do governo provisório de Temer.
Montenegro tem algumas explicações. Ele sabe, no entanto, que o Brasil não está diante de um fenômeno e alerta para um “erro” cometido pela mídia. Ela punha o foco na baixa avaliação do governo. Destacavam o “bom e ótimo” que desceu a 8%. Quase no fundo do poço. Deixava de lado, no entanto, o porcentual da resposta “Regular”.
“Existe o regular positivo. Não se deu atenção a isso. Muita gente veio do regular”, diz Montenegro. Um erro politicamente premeditado. Inserido perfeitamente no contexto do golpe.
Montenegro medita sobre a relação do grupo de eleitores “criados” pela solidariedade à Dilma. “Ainda não sei em que proporção”, admite.
Resta agora aguardar as próximas pesquisas. Elas podem inquietar alguns senadores.
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