quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Dilma Vana Rousseff, estadista

Dilma toma posse em janeiro de 2011 não em companhia de um primeiro-cavalheiro, mas da filha Paula
Dilma Vana Rousseff toma posse em janeiro de 2011 não em companhia de um primeiro-cavalheiro, mas da filha Paula
Em 2010, a tradicional família brasileira foi submetida à traumática experiência de ter de aceitar, pela primeira vez, a eleição de uma mulher para a presidência da República. A porção tradicionalista, reacionária, machista e misógina do país não pôde evitar o ato consumado. Mas reagiu de pronto, de duas maneiras iniciais.
De chofre, o sempre ditatorial partido da imprensa conservadora providenciou uma série de denúncias de corrupção contra o governo de Dilma Vana Rousseff. Ela reagiu prontamente, demitindo ministros suspeitos, um após o outro. Desconcertado, o partido da imprensa misógina entrou de sola com sua segunda ação, rotulando a presidentA (que jamais chamou de presidentA) de “faxineira”.
Diante do fracasso da primeira estratégia, a segunda manteve oculto o tiro no pé. A suposta diminuição da presidentA à condição habitualmente subalterna de “faxineira” escondeu, mal e porcamente, o fundo misógino, racista e classista da reação dos reacionários. A existência, anos mais tarde, do filme Que Horas Ela Volta? (2015), de Anna Muylaert, seria um dos calmos revides à primeira onda misógina antiDilma, aquela que pretendia “reduzir” a presidentA, mandatária máxima, a subserviente e obediente “faxineira”.
A estudante Jessica (Paula?) e a faxineira Val (Dilma?), mulheres protagonistas de "Que Horas ela Volta?"
A estudante Jessica (Paula?) e a faxineira Val (Dilma Vana?), mulheres protagonistas de “Que Horas ela Volta?”
A reação submergiu diante da competência da “faxineira”. Dilma viveu um primeiro mandato presidencial estranhamente tranquilo. Por vezes até governou em paz, enquanto o partido da imprensa inconformada mirava flechas de curare em Luiz Inácio Lula da Silva, o pai da filha política, pai da própria mãe. Embora estranhássemos, todas nós sabíamos que o partido da imprensa reacionária não hibernava. Mais cedo ou mais tarde, mostraria suas garras.
Aconteceu em 2014. A fúria reativa ergueu uma montanha durante a campanha de reeleição da que não deveria ter sido eleita, matando o suposto esquerdista Eduardo Campos e ressuscitando a suposta mulher Marina Silva, entre outras “façanhas” grotescas, tudo para não permitir a recondução da que não deveria ter sido conduzida.
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Marina Silva solta os cabelos para Aécio Neves da Cunha, ao consumar apoio ao próprio algoz no segundo turno da eleição de 2014
O plano deu certo, num primeiro momento: a mulher beijada Marina serviu de escada subserviente para que o homem beijoqueiro Aécio Neves (uma nulidade política) ascendesse ao segundo turno e usurpasse a noiva (a República). Mas a montanha não conseguiu eleger o camundongo.
Com capa falsificada da Veja e tudo, deu tudo errado. A mulher que nem deveria ter sido eleita terminou reeleita, frustrando o minucioso golpe de recaptura do controle do país pelo partido do empresariado machista-católico-regressista.
Dilma Vana Rousseff toma posse outra vez em janeiro de 2015, outra vez ao lado da filha Paula
Dilma Vana Rousseff toma posse outra vez em janeiro de 2015, outra vez ao lado da filha Paula
Aí a misoginia começou a enlouquecer, anabolizada pelo fato de que o assalto havia conseguido estreitar a margem de vitória e, assim, encolher o poder de fato da re-escolhida. A direita golpista agradeceu silenciosamente, sem muita gratidão, à esquerda antiDilma, ao partido do muro eterno, à blogosfera regressista, às cada dia menos femininas marias-vão-com-os-outros. A redução da margem de poder era boa, mas estava longe de ser suficiente para quem apostara tudo na derrota ainda “legítima” e “institucional” da bruxa inimiga.
A nação de meninos mimados emburrados começou a vir à tona. O reacionarismo começou a virar hospício. Os machos reacionários dupla e tripla e quadruplamente perdedores soltaram o pino.
Dois segundos depois da reeleição, havia gente (não só na direita e no partido da imprensa escravagista, mas até mesmo na chamada blogosfera macho-progressista) garantindo que a reeleita não tomaria posse, não conseguiria governar, não teria um minuto de paz, não governaria.
Dito e feito.
A guerrilha de desgaste foi, pouco a pouco, se transformando em guerra aberta, político-jurídico-midiática. Me abstenho de relembrar o último ano e quatro meses, que está nítido nas nossas memórias de sofredoras.
Corto para o dia em que Dilma deixou o vice decorativo Michel Temer cuidando da casa e viajou para o coração do GOLPE, Nova York, para discursar na Organização das Nações Unidas: 22 de abril de 2016, aniversário de 516 anos do “descobrimento “do BraZil.
Dilma Vana fala sobre o clima
Dilma Vana fala sobre o clima na convenção sobre o clima
Serena. Calma. Tranquila. Ponderada. Controlada. Moderada. Para alívio momentâneo da direita hidrófoba e surto automático de esquerdas misóginas que desde janeiro de 2011 não confiam um milímetro em seu governo, Dilma não usou a tribuna internacional para desvio de rota, pedido esmolambado de socorro ou plataforma de chororô. Agiu como a estadista que, dia após dia, noite após noite, tem revelado ser.
Na serenidade da resistência em fogo brando, expôs mais uma vez o descontrole do partido da imprensa golpista (de direita e de esquerda e de centro) e do partido da Fiesp (Federação das Indústria de São Paulo = Rede Globo), o PCO, Partido do Crime Organizado.
Não importa um milímetro que a revista-panfleto Istoé xingue Dilma e a difame como louca furiosa. A cada dia, mais gente (sobretudo gentes de gênero feminino) compreende quem é que está louco, furioso, descontrolado, em combustão espontânea: são os (predominantemente) machos que até hoje não se conformaram nenhum segundo sequer com a eleição da eleita e reeleita.
Coisas estranhas acontecem enquanto Dilma esbanja serenidade e maturidade diante da brutal ameaça de assalto ao símbolo que é, de violência anti-institucional e de estupro à figura que representa. Brinquemos de fazer listinha.
Michel Temer se comporta como estadista para garantir a vaga de Dilma em não-eleição indireta
Michel Temer se comporta como estadista para garantir a vaga de Dilma em não-eleição indireta
Candidato a usurpador, o vice-presidente golpista da República sai de carro semi-escondido, descabelado, esbugalhado, esquecido de plantar pancake no rosto betuminoso.

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